Você já reparou como uma tela tem a capacidade de prender a atenção de uma criança? Parece que a ação ajuda e acalma, mas a verdade é que a ciência vem demonstrando a cada dia que quanto mais tempo a criança passa na frente de um aparelho digital, seja tablets, smartphones ou até mesmo a televisão, menos ela se desenvolve.
Sabe aquela velha história de que nada substitui um toque, um olhar ou uma conversa? É tudo verdade. E o grande problema das telas é, justamente, a ausência desses momentos únicos de proximidade entre as famílias.
É fácil entender: nos primeiros anos de vida, o cérebro de uma criança é como uma planta que está brotando: precisa de sol, água e contato. São milhões de conexões cerebrais por segundo que se formam a partir daquilo que é vivo: voz, toque, sorriso, choro, brincadeira, entre diversas outras interações pessoais. A tela, por mais interessante que pareça, não contribui para esse crescimento, uma vez que não permite a troca de experiências tão importantes, como um olhar sincero, uma fala espontânea, uma imaginação natural e uma emoção genuína. Pelo contrário, ela pode estar interrompendo o desenvolvimento saudável da criança.
Quando se passa muito tempo diante de uma tela, o cérebro começa a funcionar de maneira diferente. As telas não exigem esforço cognitivo, emocional ou físico. Elas entregam a tarefa completa. O perigo disso é que o cérebro acostuma-se a receber estímulos rápidos e curtos, o que pode dificultar a atenção, a empatia e a capacidade de pensar profundamente. A tela não ensina a lidar com frustrações e afetos. Ela tem a habilidade (negativa) de anestesiar as crianças.
Nos atendimentos do programa de Intervenção Precoce do Instituto Mano Down, uma das ferramentas mais importantes é justamente a brincadeira. Quando direcionada de forma correta, ela tem a capacidade de auxiliar a criança a melhorar a atenção e a concentração. O bebê é incentivado a explorar o ambiente por meio de sons, cores e texturas, aprendendo a dar significado aos elementos através dos simbolismos presentes nas atividades. A criança também desenvolve autonomia e criatividade, entendendo as ações da outra pessoa que está interagindo com ela. O que contribui para que o indivíduo tenha uma percepção e entendimento inicial das suas próprias expressões, sentimentos e desejos, ao contrário do que ocorre quando ela está diante de uma tela. Essas interações são importantes não apenas no contexto das terapias, mas em todos os ambientes que a criança habita. Ela necessita ser incluída, interagir e socializar com o mundo a sua volta para se desenvolver. Tempo de tela excessivo faz com que a criança queira cada vez menos participar desses momentos.

Por outro lado, entendemos que, muitas vezes, o uso de telas é inevitável na nossa rotina. Dessa forma, vamos entender melhor as recomendações indicadas por instituições nacionais e internacionais da área da saúde:
A Academia Americana de Pediatria recomenda: nada de telas antes dos dois anos de idade. Após esse período, a recomendação é utilizar os aparelhos sempre com tempo limitado e com a presença ativa do adulto. A Sociedade Brasileira de Pediatria reforça que, para crianças de dois a cinco anos de idade, o tempo de tela deve ser de, no máximo, uma hora por dia, sempre com supervisão e acompanhamento constante. Para crianças de seis a dez anos de idade, a recomendação é de uma a duas horas diárias, e para adolescentes, de no máximo duas a três horas por dia. O uso deve ser em momentos específicos e não deve afetar a convivência com os familiares, o sono e as atividades físicas.
É também recomendado evitar o uso de telas durante as refeições, desconectar-se dos dispositivos de uma a duas horas antes do sono e criar regras claras sobre tempo de navegação online, equilibrando o digital com o real. O foco deve ser sempre o contato humano.
A saúde mental de uma criança começa com o bem-estar emocional e cognitivo, que é construído nas pequenas ações do dia-a-dia, como brincar, conversar e sentir-se confiante e segura perto das pessoas que estão ao seu redor.
É sempre importante ressaltar que nenhuma tela substitui o olhar entre pais e filhos. Quando a mãe, pai ou responsável está presente, a criança sente que é importante e real.
Saúde mental começa com menos tela e mais interação.

















Leave Your Reply