UM OLHAR QUE BRILHA E UM CAVACO QUE AMA!TEXTO PROFESSOR BERNARDO G.B.NOGUEIRA

abril 04, 2016

Um olhar que brilha e um cavaco que ama!

 

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Eu poderia escrever um texto e mandar pro Dudu. Dizer assim fácil, como ele diz pra gente: “Te amo!” Mas assim, a gente não sabe tanto de amor como ele. Deve ser coisa de cromossomo né? Então, hoje, dia 21 de março, dia no qual, no mundo inteiro as pessoas voltam seus olhos para a causa da Síndrome de Down, foi até as 19 horas um dia comum Acordei, e como sempre, planejei salvar o mundo, amar mais, se possível, cumprir as coisas de educação que minha mãe me ensinou. Dentro de nossa finitude tentamos lidar com isso de maneira tranquila – nem sempre conseguimos, posto que amamos, e isso de amar faz a gente perder o rumo. Como é bom se perder…

 

E é sobre isso mesmo que gostaria de dizer algo. O Léo era um cara desses invejáveis pra mim. O conheci há alguns anos em uma empresa na qual ele era o chefe do setor jurídico. Mas o que me levava ao Léo eram os olhos. O cara tem olhos coloridos. Mas aí nem tem a ver com essas questões de estética. Sei só que os olhos dele brilham. Bom, volteei pelo mundo, sai e entrei e só depois fui descobrir sobre essa coisa de se perder. E posso talvez dizer, por amor é que a gente se perde.

 

O Léo, dos olhos brilhantes, tinha lá sua perdição – e era o Dudu. Aí sim, agora, mesmo com essa coisa de cromossomos eu vou dizer, tem explicação cientifica para olhos brilhantes não! O Dudu escapa a essas coisas da razão. Igual quando a gente está amando, não adianta, não se esconde e nem tem explicação. O Léo brilhava nos olhos por causa disso. E então eu preciso voltar a falar de hoje, do dia que começou quando o despertador tocou, mas se inventou em mim, feito outono, quando de longe, lá perto do palco o Dudu gritou: “Bzão, você tá sumido cara! Que saudade! Você sabe que eu te amo né!”

 

Bom Dudu, eu sei cara, e sei também que se estou acordado até agora é porque não consegui ainda digerir as dezenas de abraços que você me deu, e as centenas de horas que minha vida vai ter a mais depois de você menino! O Dudu é uma espécie de antídoto para aquilo de ruim que foi e que virá. Enquanto um país se divide por questões políticas, na canção do Dudu e nas palavras e abraços, tudo se esvai, o amor não explica nada, e por isso mesmo, talvez seja a única ideologia que tenha algum sentido para além das explicações racionais de filósofos e juristas de plantão.

 

Quisera o mundo que esse recado fosse ouvido. Quisera eu amar igual ao Dudu. O Léo agora anda só com esse olho brilhando e ele é bonito que só. Mas também, até eu né, com o Dudu ali ao lado. Com o Dudu dizendo que nunca se cansa. Nossa, o Dudu me disse isso hoje! “Eu nunca me canso Bzão”! Cara, o que o Dudu está dizendo é que esse lance de cromossomo bagunça a gente, porque ficamos com explicações demais, falas demais, regras demais, e daí, não poderia ser outra coisa: cansaço demais, poesia de menos, e amor guardado nas agendas.  O Dudu já me diz logo: “Quem sabe o dia dos shows é o Léo, eu fico só curtindo as mulheres lindas que vão lá!” O Dudu é uma espécie de Vinícius de Moraes, que movia-se na direção do amor. Este poeta, aquele, a própria poesia. O  Dudu ensina a escutar. Estamos a falar demais. O ouvido é lugar de amor. Cultivá-lo ao lado do Dudu é chegar perto do céu.

 

Hoje na Newton Paiva, digo, sem peias, o Dudu com o cavaco, e o Léo com aqueles olhos brilhantes, levaram amor. E mirem, estavam ali para levar amor. Quantas pessoas vivem de levar amor aos outros? É essa coisa de cromossomos, que confusão. Igual mesmo a esta fala apaixonada, igual o amor. Uma confusão só. Sem explicação. A lei do direito “não toca”. O Dudu sim. Ele nos toca, beija e abraça sem limites. Nos recebe sorrindo e diz: “te amo cara!”.

 

Hoje me perdi ali. Cada acorde do Dudu, cada olhar do Léo. E a cada suspiro dos alunos, da professora Amanda Azeredo que organizou esse dia. Do Kosmos que recebia nesse dia o afago do Dudu. Não foi apenas uma noite para reflexão sobre a diferença. O Crepúsculo, que é uma ONG que trabalha a arte como inclusão fez cena. Criou tempo. Esse povo do cromossomo atrapalha a gente. Daqui, então, me despeço. Um professor de Direito que não consegue viver sem o infinito. Procuro todo dia que acordo. Todo dia que amo. Que escuto canção e que escrevo poesia. Mas viver assim, com amor à flor da pele, só o Caetano, o Chico, o Dudu, todos esses com cromossomos que nos confundem, o Léo de olhos brilhantes, e também quem é atravessado pela diferença, que ao nos confundir, ao nos embaralhar em nós mesmos, em nossos preconceitos, nos inaugura, e assim, depois disso, é só amor. Essa palavra que é o verbo do Dudu, que é o que nos faz perder, e estar perdido hoje é realização plena do humano, que ri, chora, e agora ama!

 

Beijo grande, com amor e toda admiração.

Bzão.

BH – outono, 2016.

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